CLENDINNEN, Inga. Aztecs; an interpretation. Cambridge: Cambridge University Press, 1991.
http://books.google.com/books?id=wx6qqnjStIEC&printsec=frontcover&dq=aztecs+inga&hl=pt-BR&cd=1#v=onepage&q=&f=true
Foi Frei Bartolomé de las Casas, o inventor da “leyenda negra” que descreve a ocupação do México como um crime de genocídio praticado pela Igreja contra os índios. Repetida infindavelmente pela propaganda anticristã, acabou por se tornar verdade oficial. Mas a história contada pelo frade é quase a inversão exata da realidade. Já não é possível sustentá-la depois que a historiadora Inga Clendinnen, em “Aztecs: an interpretation” (Cambridge University Press), cotejou todos os depoimentos que restaram de testemunhas oculares.
Em primeiro lugar, o morticínio mal chegou a ombrear-se, em quantidade de vítimas, ao número das que antes disso foram sacrificadas e tiveram o seu coração arrancado em matanças rituais que, literalmente, lambuzavam de sangue a população de Tenochtitlan.
A extinção da cultura asteca só pode ser considerada um crime caso o mesmo rótulo se aplique à destruição do nazismo. Em segundo lugar, a matança dos vencidos não foi obra dos espanhóis, e sim dos índios das tribos vizinhas, ansiosos para vingar-se de um cruel dominador que ciclicamente devastava suas cidades em busca de vítimas sacrificiais para seu culto macabro. Eles acharam que só estariam livres do pesadelo se matassem até o último asteca — e o fizeram, contra a vontade expressa de Hernán Cortez.
Em terceiro lugar, mesmo que o supuséssemos culpado de tudo, Cortez, um aventureiro que ali chegou por decisão pessoal, contra as ordens de seus superiores, não era sequer representante do governo espanhol. Fazer dele, então, um representante da Igreja é o cúmulo do associativismo forçado. Mas Frei Bartolomé não se contenta em transformar a tardia reação das vítimas num ato de opressão colonialista. Inventando um tipo de raciocínio que no século XX será repassado às crianças de escola sob a rósea denominação de “diversidade cultural”, ele justifica moralmente a prática dos sacrifícios humanos nos cultos astecas, equiparando-a ao rito cristão da Eucaristia.
Nenhum historiador honesto aceita a "leyenda negra" de frei Bartolomé de las Casas como fonte confiável. Depois que Inga Clendinnen reuniu em Aztecs: An Interpretation (Cambridge University Press) todos os testemunhos de sobreviventes das batalhas de Hernán Cortez contra os astecas, nenhum membro da comunidade historiográfica tem o direito de ignorar que quem destruiu essa antiga cultura não foram os espanhóis, mas as tribos circunvizinhas, cansadas de fornecer vítimas sacrificiais para os ritos macabros de uma religião cujo fim Maxwell acha lamentável.
Se o livro de frei Bartolomé ainda serve de documento, não é sobre a história das Américas: é sobre o ódio psicótico que os europeus têm a si mesmos, que os leva a inventar mentiras contra seus heróis e mártires enquanto os remanescentes astecas alardeiam orgulho de uma cultura genocida.
Resumindo: De acordo com Inga Clendinnen a cultura asteca era um totalitarismo sangrento fundada em sacrifícios humanos. Os astecas passavam boa parte do ano caçando humanos nas tribos vizinhas pra sacrificá-los nos festivais que duravam três meses e chegavam a sacrificar de vinte a trinta mil pessoas todos os anos. As tribos vizinhas viviam aterrorizadas esperando o dia em que esse terror acabasse; e acabaram com a chegada dos espanhóis que os unificou para um grande assalto contra a fortaleza azteca. Hernán Cortez, grande militar, queria a rendição, conforme o hábito europeu, mas seus aliados índios queriam a aniquilação total com medo de que um dia essa maldita cultura ressurgisse novamente.
Outra história velha
Olavo de Carvalho
Jornal da Tarde, 31 de janeiro de 2002
Não se espantem que, numa semana tão cheia de novidades, eu insista em contar histórias velhas. Nada pesa mais sobre as decisões do presente do que a visão do passado. Por isso os partidos totalitários se esforçam tanto em deformá-la segundo seus propósitos. Empenham nisto verbas consideráveis e os esforços de seus melhores intelectuais de aluguel: uma falsa imagem do ontem é o mais firme sustentáculo da mentira de hoje.
Talvez o exemplo mais escabroso e mais típico de falsificação da História, nas últimas décadas, tenha sido o assalto geral à memória dos descobridores e colonizadores das Américas. Não há, hoje, quem não acredite piamente que foram ladrões e genocidas cruéis, tão famintos de ouro quanto sedentos de sangue indígena. Filmes, livros didáticos, reportagens em profusão - um bombardeio incansável e avassalador - fizeram da "leyenda negra" da colonização uma verdade estabelecida.
O modelo universalmente aplaudido dessa interpretação da História continental foi o ensaio do lingüista Tzvetan Todorov, A Conquista da América, lançado em 1982, que fez de Hernán Cortez um Adolf Eichmann ibérico, inspirando ao historiador David Stannard a conclusão: "O caminho para Auschwitz passa direto pelo coração da América."
Essa crença se espalhou e serve, hoje, para legitimar não só políticas indigenistas, indenizações e cotas preferenciais, mas também a oficialização do terrorismo intelectual anticristão nas principais universidades americanas.Mas como foi, realmente, a história de Hernán Cortez? Ele desembarcou no México em abril de 1519, com 500 soldados. Na cidade de Tenochtitlán, encontrou a sede do Império Asteca, prodigiosamente rico e poderoso.
Mas não antigo. Os astecas eram nômades que tinham chegado ali em 1325 (tão arrivistas, portanto, como os espanhóis). Só no século seguinte ascenderam ao poder imperial, dominando pelo terror as tribos em torno e obrigando-as a fornecer escravos e vítimas sacrificiais para os ritos de sua religião vampiresca.
O principal desses ritos consistia em imolar vítimas ao deus sol, arrancando-lhes o coração e cortando-as em pedaços. Só os sacerdotes manejavam o punhal sagrado, mas a população inteira colaborava na "mise-en-scène", com alegria feroz, literalmente banhando-se de sangue. Nos grandes festivais amuais, o número de imolações subia a 20, 30 mil. A orgia macabra prolongava-se por 3 meses, antecedida por 6 meses de "estação de guerra" durante os quais os astecas percorriam o país para aprisionar as futuras vítimas (durante os restantes 3 meses do ano não consta que fizessem mal a ninguém).
As tribos circunvizinhas viviam aterrorizadas. Sonhavam com a libertação.
Ela veio pelas mãos de Cortez, que as unificou para um grande assalto conjunto à fortaleza asteca. Os combates terminaram pelo cerco vitorioso a Tenochtitlán. Cortez, conforme o hábito militar europeu, queria a rendição, mas seus aliados índios decidiram que só a total liquidação do adversário poderia livrá-los do perigo. "Não podemos deixar nenhum vivo", disse um deles, "nem os jovens, que se levantarão em armas de novo, nem os velhos, que os aconselharão a isso."
Cortez nem quis nem ordenou a matança dos astecas. Ela foi inteiramente obra de índios. Não foi um genocídio empreendido pelo invasor contra a população local. Foi a liquidação de um império genocida por suas próprias vítimas, num paroxismo de vingança - vingança que pode ter sido excessiva e bárbara, mas não desprovida de motivo. Cortez não foi opressor e matador de índios:
foi seu libertador. Essa conclusão foi firmemente estabelecida pela historiadora australiana Inga Clendinnen em seu livro Aztecs: An Interpretation, publicado pela Cambridge University Press, que não é obra de mera agitação jornalística como a de Todorov, mas uma pesquisa original em fontes primárias, destacando-se como a primeira utilização global e sistemática dos depoimentos indígenas, muitos e detalhados, que se conservam sobre os acontecimentos.
Não obstante, a calúnia vociferada por um charlatão ainda é citada respeitosamente em aulas, seminários, livros didáticos, debates elegantes e jornais, ao passo que a pesquisa científica, por mais louvada que tenha sido nos círculos acadêmicos, continua ignorada pelo público geral e pela mídia.
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