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Hoje sabemos, que a universidade medieval do século XIII, "longe de representar o cume da
educação na Idade Média, não constituiu senão a cristalização tardia,
institucionalizada, mais formalizada e menos vigorosa, daquilo que se
ensinava nas chamadas “escolas catedrais” dos séculos X a XII.[3] E o
que nestas se ensinava eram precisamente as qualidades do gentil-homem
– “um intelecto cultivado, um gosto delicado, uma mente cândida,
equitativa e desapaixonada, uma conduta nobre e cortês” – como
preparatórias à aquisição das virtudes cristãs, no mesmo sentido em que
Clemente de Alexandria proclamara ser a filosofia “o pedagogo que
conduz ao Cristo”. O ensino aí alcançou tais alturas, e tão visíveis
eram os seus frutos de bondade e sabedoria, que se afirmava, na época,
que os anjos mesmos o invejavam. Malgrado o seu fulgurante e breve
prestígio intelectual, as universidades que vieram depois, com toda sua
história de greves, arruaças e até morticínios e a sua queda posterior
numa esterilidade deprimente, jamais mereceram nem mereceriam louvor
semelhante. Não é injusto dizer que os Estatutos da Universidade de
Paris em 1215, transformando a filosofia em profissão regulamentada e
meio de ascensão social, muito contribuiram para a perda da inspiração
recebida das escolas catedrais e para o afluxo de toda sorte de
carreiristas ávidos de poder e prestígio, inflados de habilidade
técnica e alheios aos ditames da moral religiosa e até mesmo secular.
Não espanta que já em 1229 eclodissem ali motins estudantis que duraram
dois anos e deixaram um rastro de cadáveres por toda parte.
Relevante, para a compreensão desse processo, é a seguinte diferença.
Enquanto as universidades privilegiavam o ensino formalizado, baseado
em textos e documentado em novos textos, criando os monumentos de
exposição escrita que hoje representam para nós a figura visível do
escolasticismo, as escolas catedrais faziam exatamente o oposto: de um
lado, não visavam à produção de “obras filosóficas”, mas de
personalidades humanas que se destacassem pela beleza, força,
equilíbrio e pureza de intenções, sem a menor preocupação de deixar
documentos que atestassem a sua passagem sobre a Terra; de outro lado,
davam menos importância, na prática pedagógica, ao estudo dos textos ou
à aquisição de técnicas do que à influência direta do mestre como
exemplo vivo das virtudes intelectuais e morais a ser infundidas no
discípulo". (CARVALHO, Olavo de. De Sócrates a Júlio Lemos. A filosofia e seu inverso II. 7 de abril de 2012.)
[3] V. C. Stephen Jaeger, The Envy of the Angels. Cathedral Schools and Social Ideals In Medieval Europe, 950-1200, Philadelphia, University of Pennsylvania Press, 1994.
Fontes:
RÁBANOS, José María Sotos (coord). Pensamento medieval hispano. Ed. CSIC, 1998.
CARVALHO, Olavo de. De Sócrates a Júlio Lemos. A filosofia e seu inverso II. 7 de abril de 2012. Disponível em: http://www.olavodecarvalho.org/textos/filosofia-inverso2.html
RÁBANOS, José María Sotos (coord). Pensamento medieval hispano. Ed. CSIC, 1998.
CARVALHO, Olavo de. De Sócrates a Júlio Lemos. A filosofia e seu inverso II. 7 de abril de 2012. Disponível em: http://www.olavodecarvalho.org/textos/filosofia-inverso2.html
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