CIÊNCIA MODERNA E OCULTISMO
Com o Renascimento e com a recuperação dos textos Clássicos desencadeou um desabrochar renovado do recurso explicativo às tradições mágicas greco-romanas, nomeadamente nos domínios da mitologia, da magia, da astrologia e da alquimia.
A redescoberta de antigos escritos platônicos enfatizou a visão da Natureza como estando toda ela animada e viva. Voltaram a consultar-se os escritos herméticos, onde sobressaem os textos conhecidos por Corpus Hermeticum, atribuídos à personagem mítica Hermes Trismegisto. Estes textos transmitiam uma "sabedoria" tão antiga que os humanistas estavam persuadidos de que o seu autor (ou autores) a teria recolhido diretamente das próprias palavras de Platão; e, como tal, foram fundamentais para o reflorescimento da magia.
Dos ensinamentos da Tábua de Esmeralda, também atribuída ao mesmo Hermes Trismegisto, derivaram algumas das doutrinas esotéricas legadas pelo Renascimento ao pensamento europeu, e deduziram-se as leis fundamentais das ciências herméticas. Dentro deste grupo, incluía-se o simbolismo, a mitologia, a magia, a astrologia e a alquimia.
É consensual, para diversos autores modernos, nomeadamente Rupert Hall (1), que a magia renascentista inspirou o desenvolvimento da ciência moderna e o abandono progressivo das abordagens filosóficas medievais (2).
A magia terá sido, como afirmou William Eamon (3), a ciência cortesã, já que floresceu por excelência em várias cortes da Europa, como Florença, Milão, Paris e Londres, particularmente na primeira etapa do Renascimento. Pode afirmar-se que as mais antigas academias cortesãs que se interessaram por estas novas formas de conhecimento foram instruídas para promover a então chamada magia natural. (1. Rupert Hall, A Revolução Na Ciência 1500-1750,Lisboa: Edições 70, 1988. p.133. (2). Idem. (3). William Eamon, Science and the Secrets of Nature: Books of secrets in Medieval and Early Modern Culture, Princeton: Princeton University Press, 1994.) Com a Idade Moderna (Séculos XVI e XVII) temos, então, não o florescimento da ciência, mas o florescimento das “ciências ocultas”. Foi a época em que a astrologia, a magia e a alquimia dominaram o cenário europeu.
Frances A. Yates, em seu livro "Giordano Bruno e a Tradição Hermética", afirma que: "foi a magia, com o auxílio da Gnose, que começou a imprimir à vontade uma nova direção". ( p. 180). E isso irá permear toda a mentalidade científica. Os objetos das pseudo-ciências da Antiguidade se tornarão, de certo modo, os objetos das novas física, matemática e mecânica. Com tempo, este mundo do ocultismo foi sendo encoberto e camuflado propositalmente no interior do mundo científico.
Tudo isso irá desembocar no “Século das Luzes”, supostamente uma época de predomínio da racionalidade, das luzes da razão. Entretanto, “O famoso iluminismo foi na verdade um obscurantismo. “Por dentro, o iluminismo inteiro foi um amálgama tenebroso de ocultismo, magia, gnosticismo, sociedades secretas, rituais entre cômicos e macabros. Não há um só historiador sério que ignore isso.” (Olavo de Carvalho, Diário do Comércio, 20 de março de 2006)
Tudo isso é confirmado pelo historiador norte-americano Robert Darnton, que procurou examinar a mentalidade dos franceses cultos na década que precede a Revolução-francesa de 1789. Valendo-se de folhetos científicos da época, fragmentos de canções, estampas populares, diários, relatórios policiais, etc, o autor verificou que havia um grande interesse, mesmo entre o público de elite, pelo ocultismo, pelo maravilhoso e pelo irracional. (Cf. DARNTON, Robert. O lado oculto da Revolução, ed. Companhia das Letras)
A Maçonaria, por exemplo, apoiada por Carlos II, foi a força condutora por trás da ciência moderna, sob a máscara da Real Sociedade (Royal Society). Sir Robert Moray, por exemplo, alicerçado em suas experiências pela maçonaria, foi capaz de estruturar e administrar a Real Sociedade. O que era discutido nos subterrâneos do mundo ocultista inspirava certos princípios “científicos”. Essa camuflagem permanece despercebida aos olhos de muitos incautos até hoje.