A PALHAÇADA DE SIDNEY SILVEIRA E CARLOS NOUGUÉ CONTINUA


Sujeitinho obstinado

Olavo de Carvalho
22 de julho de 2011


A coisa mais fácil do mundo seria o Sr. Sidney Silveira reconhecer o óbvio e publicar no Contra Impugnantes uma notinha: “De fato, alterei o sentido das palavras do Sr. Olavo de Carvalho e com isso arrisquei trazer dano injusto à sua reputação. Desculpe o vexame. Assunto encerrado.”

Lembro-me de ter cometido pecado similar, não por intenção maliciosa mas por genuína ignorância palpiteira, contra o falecido general Hélio Ibiapina, então vivo e presidente do Clube Militar. Repassei levianamente uma história que ouvira de gente de esquerda, acusando-o de haver torturado o líder comunista Gregório Bezerra. Ele veio falar comigo, provou que eu havia feito caca, e não tive remédio senão pedir desculpas em público, o que não é desonra nenhuma, é aliás o contrário de uma desonra.

Mas o Sr. Silveira tem aquela inflexibilidade do pecador obstinado, que, quando pego de calças na mão, se enrijece de orgulho e, subindo um pouco mais alto na escala da sua santidade imaginária, dispara contra o queixoso uma saraivada de dogmas da fé perfeitamente alheios ao caso e, por isso mesmo, tanto mais impressionantes.

Na platéia de seus leitores – que los hay, los hay –, não faltaram vozes de apoio para secundá-lo, repetindo o truque com fidelidade admirável, contornando meticulosamente o fato concreto e desdobrando-se nas mais lindas considerações doutrinais contra o capitalismo, a liberdade de consciência, a fenomenologia de Husserl, o modernismo teológico e não sei mais quantas coisas das quais me imaginavam o representante e porta-voz oficial.

É como se eu, surpreendido pela empregada de casa em flagrante punheta no sofá da sala, convocasse meus amigos para esmagar a infeliz testemunha sob uma tempestade de citações da Suma Teológica em latim.

É um tanto deprimente ter de lembrar a essa legião de sábios teólogos que os defeitos da vítima, reais ou imaginários, não autorizam ninguém a infringir contra ela o Oitavo Mandamento. Aliás, se cometi tantos erros, se tão rico e variado é o repertório dos meus pecados, para que inventar mais um, acusando-me logo daquilo que não fiz?

Se o Sr. Silveira confessasse ter lançado contra mim uma acusação falsa, recuperaria ao menos um pouco de credibilidade para alegar, em seguida, que as demais acusações eram verdadeiras.

Agindo como agiu, só conseguiu desmoralizar a todas elas de uma vez, emporcalhando-as com a mancha do falso testemunho e poupando-me o trabalho de desmentir uma a uma.

Nova demonstração de sua renitente soberba forneceu-nos ele ao anunciar a premiação de um leitor no Concurso Santo Palavrão, sem mencionar nem por alto o fato de que essa premiação trazia consigo a total desmoralização do próprio concurso enquanto tentativa de humilhar um “filósofo boca-suja”.

Não custava nada o sr. Silveira reconhecer: “É, eu estava errado. Santos dizem palavrões, sim. O filósofo boca-suja não está necessariamente excluído da glória eterna só por ter usado expressões medonhas como S. Francisco e S. Thomas More também usaram.”

Mas não. Ele não pode dar o braço a torcer. Não pode recuar um só milímetro da pose de infalibilidade, ostentada em atos e feitos que as proclamações verbais de humildade não atenuam nem um pouco. Anunciando a premiação sem comentários, dá a entender que ela não significa nada, e sai assobiando com o ar mais inocente do mundo, como se a coisa não fosse com ele.

Até onde irá esse professor de doutrina na sua obstinação insensata de mostrar que na vida real, fora da confortável esfera das citações eruditas, não entende uma só palavra dos mandamentos divinos?

Richmond, 22 de julho de 2011

P. S. – Ao fim de uma eruditíssima nota na qual novamente foge do fato para o reino encantado das discussões doutrinais, o Sr. Carlos Nougué, anunciando desmantelar um “sofisma”, declara: “Se, como alguns querem fazer crer, o tratar os outros por nomes obscenos se justificaria pelo fato de São Thomas Morus tê-lo feito a alguma altura de sua vida, então também o cometer adultério se justificaria pelo fato de Santa Maria Madalena tê-lo cometido a alguma altura de sua vida.” Sofisma, mesmo, é isso. S. Thomas More usou de palavrões numa polêmica contra a rebelião luterana, e não consta que Sta. Maria Madalena cometesse adultério em defesa da Igreja. Nougué, largue de palhaçada teológica e arranje um emprego decente.

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